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5 Dias, 5 Críticas: Superman Returns

Regresso da Desilusão

E viu a luz do dia o novo projecto cinematográfico, baseado na mais mítica personagem da DC. Foram necessários 19 anos, diversos realizadores, e cerca de 60 milhões de dólares, para que a produção fosse para a frente, com Bryan Singer ao leme.

E, uma vez mais, Singer rodeou-se dos seus mais fiéis colaboradores (argumentistas, directores de produção, director de fotografia) e, com cerca de 200 milhões de dólares, apresenta este Verão a sequela directa de Superman II de Richard Lester e Richard Donner, ignorando os penosos Superman III e IV.

Com base nesta premissa, parece que Singer entende e respeita realmente o material que tem em mãos. No entanto, depois de ter visto o filme, penso que não conseguiu levar até ao fim as opções em que parecia ter alicerçado o projecto.

E se Richard Donner percebeu que qualquer que fosse a história do Superman a contar, o trabalho dos actores que iriam desempenhar o Superman/Clark e a Lois Lane seria o verdadeiro motor de tudo o resto, parece que Singer não lhe deu a devida importância.

E para se “enterrar”, acentuou o lado romântico, o que mal suportado ainda torna mais evidentes os problemas de casting. Reeve é o Superman e sempre o será, dentro e fora da tela. Brandon Routh é parecido com Reeve e nada mais. Sinceramente a personagem perde a profundidade humana que o caracterizava e Clark Kent passa a ser o Superman com óculos, uma vez que Routh não lhe imprime a postura, os gestos e o desnorte que o caracterizavam na versão de Reeve.

Kate Bosworth de 23 anos fica com a missão de representar Lois Lane depois de ter vingado como jornalista e ter ganho o Pulitzer. Sinceramente não tem culpa do erro de casting cometido e mesmo assim acho que tenta dar o seu melhor. No entanto, penso que não funciona, pois para uma Lois mais madura, mãe e com uma carreira sólida, seria necessária uma actriz bem mais calejada.

Para concluir, Reeve tinha gozo a interpretar a personagem enquanto a Routh parece que o Superman é um fardo com o qual tem de lidar.

Quanto ao filme propriamente, Singer é fiel ao trabalho de Donner aumentando a intensidade romântica. Traz para o projecto Kevin Spacey que é dirigido num registo muito semelhante ao Lex Luthor dos filmes anteriores. Em certa medida fiquei desiludido com isto porque a um actor do calibre de Spacey era exigido uma personagem completamente concebida pelo próprio tal como o fez Gene Hackman nos filmes originais.

E depois CG e pouca emoção. Os efeitos são bons mas por vezes demasiado plásticos, sobretudo quando a personagem do Superman é trabalhada para parecer ter mais músculos. O momento mais espectacular do filme acontece a meio do mesmo, sendo a cena final pouco rica de emoção o que resulta num desequilíbrio e numa certa sensação de: “Só isto? Estava à espera de mais!”.

E existem algum momentos demasiado corny mas que prefiro não revelar pois iria criar spoilers desnecessários. No entanto o que posso adiantar é que a existência desses momentos fizeram-me perceber que Richard Donner foi completamente visionário e criou um verdadeiro clássico do cinema conseguindo fugir ao que de pior poderia criar para esta personagem.

Ao contrário de adaptações recentes de banda desenhada, o filme de Donner é bom em qualquer subgénero e não é somente um filme para apreciadores. Infelizmente o filme de Singer será um filme genial para os fanboys e afins mas será um filme dispensável para a maior parte da indústria cinematográfica e para a maior parte dos amantes de bom cinema. E mesmo assim Singer enche os bolsos e já está aí uma prometida sequela.

Nota:

Queria não deixar de realçar a minha opinião sobre Bryan Singer. Singer é um bom realizador de filmes low-budget tendo no género uma obra-prima intemporal, os Suspeitos do Costume.

No entanto no campo das grandes produções baseadas em comics penso que é endeusado sem grande razão. Os seus X-Men são bons mas também não são aquilo que querem fazer deles.

O maior problema a meu ver neste filme foi o facto que Singer gozar de um reputação que acabou por o deixar tomar más decisões que poderiam ser perfeitamente evitadas. Digo isto baseado num entrevista que li dele na revista “Total Film” em que ele diz que é muito bom naquilo que faz e mostra uma arrogância que demonstra que na indústria actual basta aparecer um tipo um bocadinho melhor que a média para ser logo endeusado (‘I’m pretty good at what I do…” página 94)

Depois diz na entrevista que estavam numa de fazer castings até que ele conheceu o Routh num café e olhando para ele decidiu logo que era o homem certo. Foi com ele à rua e pediu-lhe para fazer que ia voar. Nesse momento a escolha estava feita. Se virmos os documentário do dvd do Superman, the Movie, vamos descobrir que Donner procurou por toda a América, viu centenas de actores mesmo depois de Reeve e só aí fez a sua escolha. Outros tempos, outros públicos.

Fernando Campos

Comentários

Anónimo disse…
Bom, discordo desta crítica em alguns pontos. Acredito que Singer faz para se incluir na mesma liga que os primeiros filmes, e tudo o que consegue é uma série de piscadelas de olho, mas não partilhar o pódio. Porém, vale a pena apontar que esses filmes não eram o "clássico incontornável" que se quer fazer querer. O Luthor, a voltinha ao mundo, a bandeira americana, os efeitos especiais, a música do John Williams.. também há "corny" a rodos. Como primeiro blockbuster, ainda hoje me satisfaz, sendo que até sou fã do personagem, mas não costumo vê-lo referido como "histórico".

Depois, uma contextualização. Parece-me nítido que este filme é claramente superior ao Batman Begins e ao Last Stand, sendo que talvez se equipare ao Spider-man (e aí fala o meu coração de geek, que não perdoa os cgis completos). Segundo uma outra entrevista, na Wired, este realizador não é ofuscado por um grande amor à personagem, mas faz o trabalho de casa. Os efeitos são realistas e espetaculares sem cair no ridículo e a história surpreende algumas vezes, o que tendo em conta o personagem que é e as adaptações recentes, é dizer qualquer coisa. Os actores fazem o que podem, e nisso o Spacey refina a actuação do Gene Hackman. Acho que tudo isto contribuiu para uma actualização do franchise, apesar de não superar os esforços iniciais (embora também possamos comparar com o III e o IV).

A ver vamos se se paga. Levar com os Piratas das Caraíbas na semana a seguir foi um golpe pesado. Certamente gostava de ver um segundo, mas não estou a ver um novo orçamento de 200 milhões (a propósito, isto corresponde aos 10 anos de desenvolvimento, ou ao orçamento só desta produção?).
Anónimo disse…
As diversas tentativas de trazer a personagem de novo ao cinema custaram cerca de 60 milhões de dólares.
O filme em si custou cerca de 200 milhões de dólares dando então um total de 260 (segundo o imdb $260,000,000).

Quanto ao Batman Begins eu achei fiel à bd mas fraco cinematograficamente. O Last Stand a meu ver é bom mas pecado por desprezar as personagens.

Mesmo assim o melhor que se arranja bom para fãs e bom cinema são os dois Spiderman que têm sim um senhor talentoso no leme, Sam Raimi.
Anónimo disse…
Aceito esta crítica mas discordo em varios aspectos.
É preciso entenderem que as coisas evoluem e,se vao ao cinema com a mente na serie antiga, então vão ficar mesmo desiludidos porque não tem nada a ver.
A tecnologia evoluiu e isso reflecte - se neste filme.
Em relação à película, acho que tem pontos fortes e fracos. os fortes são: a representação de Routh que soube encarar o papel que lhe esperava com profissionalismo; tambem os efeitos especiais estão perfeitos, graças ás camaras Genesis criadas especialmente para este filme.
No entanto, mesmo no melhor tecido cai a nódoa e eu acho que a Mrs. Bosworth não soube capturar a essência da personagem.A relação entre as duas personagens não foi conseguida.
É verdade que há muita coisa por responder, mas temos de entender que, em principio, há mais dois filmes para serem feitos.
O Mr. Bryan Singer também esteve bem a meu ver, pela visão que teve e pelos riscos que correu. Acho que lhe devemos dar o benefício da dúvida.
Em 2009 vamos ver como ficam as coisas.
Kiss kiss
Anónimo disse…
Compreendo o que tem sido dito nas críticas anteriores, e francamente concordo com quase tudo... No fim, o saldo final é mais a dar para o negativo, mas sobretudo por uma questão de preconceito pessoal, que já vou explicar. Da cinematografia às escolhas de casting fiquei contente (tirando, claro, a Kate Bosworth. Fez o melhor que podia, mas com 23 anos naquele contexto não me convenceu. Com um filho de 5 anos?... Brrr.), mas a história e a caracterização da personagem do Super-Homem é precisamente aquela que me irrita profundamente. Porque eu, lamento dizer, sou daqueles pró-Byrnes ferrenhos que acha que um Super-Homem poderoso demais é de uma pobreza extrema em termos de história, e que a pessoa real é o Clark e o Super é a máscara (ao contrário do Batman, porventura). A sério, fico profundamente enojado ao ver um personagem tratar com quase distância e frieza a mãe adoptiva, que o criou até à vida de adulto, e com reverência e direito a citação um fantasma de um mundo morto gravado num cristal. Sou extremamente behaviourista nestas questões: para mim, o que fez o Clark ser o Super-Homem foi a educação que lhe foi dada pelo Jonathan e pela Martha, não foi cá uma fatiota com cuecas por fora das calças dada pelo Jor-El, depois de lhe dizer que os humanos são porreiritos, mas tens de ser tu a guiá-los... Blergh.

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