Serve isto para introduzir, sem mais delongas, aquele que é talvez o mais importante anúncio que vos faço desde finais de 2002, quando abri a primeira loja física. Assim, a Kingpin Comics prepara-se para inaugurar até final do ano uma NOVA LOJA em Lisboa, que visa não só a substituição da anterior, mas, mais do que isso, a introdução de uma nova filosofia, de um novo conceito, de um novo modelo de loja, como atrás aludi. O novo espaço está situado junto à ALAMEDA AFONSO HENRIQUES, numa das suas transversais, no nº16 da Rua Quirino da Fonseca, a 2 ou 3 minutos da saída do Metro, consoante o ritmo da vossa passada. A nova loja terá cerca de 85m2 (bem medidos, nada de dimensões fantasiosas ou inflacionadas), mais do triplo das duas lojas actuais em conjunto, que perfaziam uns “impressionantes” 25m2. As obras de adaptação da loja começarão no início de Setembro, pelo que conto poder inaugurá-la em NOVEMBRO, logo a seguir ao FIBDA deste ano.
As razões para a mudança são várias, a começar pelas mais óbvias da necessidade de um espaço maior ou do estado de decadência crescente e irreversível em que se encontra o Centro Comercial S.João de Deus, um dos últimos resistentes da geração de galerias comerciais inauguradas entre o final da década de 70 e o início da década de 80, da qual só escapam ainda condignamente o Apolo70 e o Centro Comercial de Alvalade. De resto, seis anos enclausurado entre as paredes de um centro comercial feio e desconfortável deixaram-me sedento de luz do sol permanente, daí a opção lógica por uma loja de rua, com outra exposição e outra visibilidade. Mas o acréscimo das dimensões da loja não servirá apenas para triplicar, pura e simplesmente, o espaço de exposição ou o número de livros e outros artigos disponíveis. É evidente que esse acréscimo existirá (embora não nessa razão de um para três), mas nunca foi minha intenção competir pela quantidade, mas sempre, e cada vez mais, pela qualidade, pela diferença. Mais espaço não implicará forçosamente muitos mais livros, mas implicará sobretudo MELHOR exposição dos livros, com melhor diferenciação temática e autoral. E isso implicará, naturalmente, um melhor serviço e mais valor acrescentado para o cliente.
Sobre este pormenor da qualidade, permitam-me recordar ou dar-vos a conhecer o caso da Isotope – www.isotopecomics.com -, talvez a mais mediática e idiossincrática loja de comics no mundo. É uma loja de média dimensão, que terá pouco mais de 100m2 de área, que privilegia o conforto, o design e a elegância na exposição, em detrimento do empilhamento de action-figures e caixotes de back-issues e da quase sobreposição de expositores infindáveis de novidades e graphic novels. E é talvez, repito, a mais mediática das lojas, ou livrarias, de BD no mundo, pelo menos nos Estados Unidos. Grande mérito do seu proprietário, o excêntrico James Sime (imaginem o Doutor Estranho, mas sem a capa), um homem dinâmico e criativo, cujas múltiplas iniciativas e eventos, desde concertos até às mais comuns sessões de autógrafos, têm levado à sua loja grande parte dos maiores nomes da indústria americana, transformando a Isotope num local de culto incontornável. Tudo isto porque, aí está, James Sime soube apostar num novo paradigma, num novo modelo de espaço comercial, arriscando num visual cosmopolita sofisticado em total décalage com a imagem habitualmente associada, e com razão, às lojas americanas da especialidade.
Em Portugal, a exiguidade do mercado e do número de leitores de banda desenhada (problema insolúvel nesta ou nas próximas gerações, por ter raízes infinitamente mais profundas e complexas que apenas a própria B.D. em si) exige aos intervenientes comerciais uma atenção redobrada às flutuações (geralmente negativas) nos hábitos e padrões de consumo. Pela minha parte, tenho vindo a perceber ao longo dos últimos anos a necessidade progressiva de transformação de simples comic shops em verdadeiras LIVRARIAS de Banda desenhada; espaços transversais capazes de congregarem os habitués de todas as semanas com outros públicos menos especializados, mas que se sintam potencialmente atraídos por um espaço elegante e confortável, que enfatize as componentes artística e literária e ajude a desfazer o preconceito absurdo que paira sobre a B.D, que não é mais, afinal, do que a síntese, a simbiose potencialmente perfeita entre arte e literatura. E esses públicos distintos são hoje fundamentais à sustentação e sobrevivência futura de lojas especializadas, particularmente no nosso país, mas igualmente no resto do mundo.
É minha convicção, felizmente, que a maioria dos responsáveis pelas lojas de BD portuguesas são pessoas informadas, atentas e suficientemente sagazes para saber “farejar” e acompanhar as flutuações mais pertinentes. No Porto, as duas lojas de referência da cidade já mudaram ou preparam a mudança de instalações. A Central Comics fê-lo sem grande pompa ou circunstância, passando para uma zona mais central da cidade, na expectativa de obter assim maior visibilidade e exposição pública que complemente a combatividade e agressividade comercial que têm sido apanágio dos seus responsáveis. A veterana Mundo Fantasma, ao completar o seu 15º ano de existência, aposta na expansão de espaço que parecia ansiar há vários anos, preparando-se para inaugurar aquela que será, quase certamente, a maior loja da especialidade em Portugal, embora o ênfase aparente na dimensão do espaço e na quantidade de livros me leve a torcer o nariz ao modelo apontado.
Pela minha parte, iniciei uma procura activa de um novo espaço logo no início do ano, processo moroso, exasperante e por vezes desanimador, que agora culminou com este anúncio público. Seremos assim a terceira loja a mudar de instalações no decurso de 2008, confirmando as tais “grandes mudanças” que antevera. Acredito que estas mudanças, mais do que meras trocas de instalações, representem novas formas ou, no mínimo, novas tentativas de postura perante o mercado. E perante tal agressividade comercial, perante o reforço positivo do nível concorrencial, o leitor, o consumidor final, só terá a ganhar. E com ele, a BD em Portugal, o que é algo diferente da “BD portuguesa”; mas essa, não está esquecida, e é parte integrante da tal mais-valia que a Kingpin Comics irá oferecer a breve trecho, reforçando a aposta na edição de autores nacionais e, mais ainda, criando os instrumentos técnicos e lectivos propícios ao aparecimento e aperfeiçoamento de novos talentos.
Mas isso será tema para outra conversa. Um abraço e boas leituras.
Comentários
Apesar de ter tido muito gosto em fazer aquelas visitas relâmpago ao longo de 5 anos na loja do C.C.João de Deus (aquele cheirinho a Caril e a descoberta dos teus compententes vizinhos da cave), tenho como opinião que uma loja é como uma planta (influências do meu actual emprego).
Se a queres ver crescer e vê-la ser 'namorada' por todos os que passam por ela, há que tirá-la do vaso e encontrar um bom cantinho de terra onde ela possa crescer à vontade. A 'Kingpin' animou e coloriu esse C.C., é pena ter de sair, mas que fique a memória.
Vários são os momentos que vão ficar na minha memória entre os quais momentos tão singulares como o vislumbrar do Mestre Seth naquele 'cantinho do cubo laranja' a folhear os teus comics como uma criança brilhante e bem comportada e os nossos vários workshops de 'como ensinar o Diogo a não ser tão ingénuo'.
Boa Sorte..Uma vez Kingpin para sempre Kingpin.
(sorry sempre tive o desejo de me armar em Hank McCoy e dizer esta frase).
Boa sorte para esta nova etapa profissional.
Jorge
Fala o Pedro Farinha.
Fico bastante curioso. Como será isso: mais espaço mas mesmo assim não haverá um grande aumento do stock de livros (pelo menos em exposição?). Então a livraria terá café, espaço de exposições, de workshops, de tertúlias, etc?
Vamos ver. Parabéns. E parabéns também por quereres de algum modo apoiar a BD portuguesa.
Abraço
Pedro
Excelente notícia, e espero que dê para fazer algumas ideias que o Pedro apontou, eu também fiquei com as mesmas ideias ao ler o teu anúncio.
O café é que se calhar não dá jeito, deixas manchas em sítios indesejáveis :-p
Paulo Costa
Uma loja não é como uma planta, acredita no que te digo (influências do curso de Engª Florestal).
Espero que tenhas bastante sucesso (como, aliás, tens tido) e começes a praticar preços com uma taxa de conversão 1 dólar = 1 € :D (não custa sonhar...)
Espero que NÃO apoies a bd portuguesa por razões patrióticas somente mas por um critério de qualidade (btw, a tua "superpig" está muito bem conseguida. A Fundação Calouste Gulbenkian ainda n se manifestou por causa da homenagem que lhes prestas?).
Um abraço do male striper de Oeiras
Quanto à aposta na BD nacional, descansa que nunca alinhei em patriotismos bacocos e sempre desprezei, é o termo, o nacional-porreirismo vigente. Só edito e só editarei coisas em que acredite e em que reconheça qualidade imediata ou o potencial de atingir depressa essa qualidade. Até porque a minha visão do que é "boa arte" (que é aquela vertente mais comummente e mais facilmente comentada) difere muitas vezes das opiniões mais generalizadas. Sempre privilegiei legibilidade ao dinamismo e narrativa ao "espectáculo visual". Um dia as pessoas talvez percebam que a "simplicidade" é muito mais difícil que o "cross-hatching" a metro.
Quanto à "outra" Fundação, duvido sequer que saibam da minha existência ;).