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3ª feira e o 3º estágio da escrita

"É 3ª feira/a feira da ladra/abre hoje às 5 da madrugada", já cantava Sérgio Godinho e vou ser obrigado a confiar na sua palavra, até porque nunca estive na feira da ladra, muito menos às 5 da manhã.

Posto isto, e como não encontro mais nada útil para dizer (pelo menos, nada que possa ser aqui publicado), decidi compartilhar convosco o argumento da página 7 do Super Pig #3. Já inclui tudo, inclusive o tal 3º estágio da escrita que aflorei no post de ontem (aliás, esse 3º estágio dessa página foi precisamente o trabalho de hoje, 3ª feira, e isto para o Pig 3; só faltava mesmo isto ser a página 3 e seria forçado a consultar um perito em numerologia... ou um psiquiatra...).

Cá vai então:

"Pg.7

Vinheta horizontal a toda a largura, dividida em dois painéis diferentes contíguos. A acção desenrola-se da esquerda para a direita:

1.1 - Franco desce escadas, na direcção do leitor (sub-vinheta mais pequena à esquerda).

1.2 - Franco nos calabouços da PJ, deslocando-se da esquerda para a direita. Usar fundo branco da página como background. Os calabouços deverão ser um misto de masmorra medieval com prisão intergaláctica estilo sci-fi. Alta tecnologia com falta gritante de manutenção. Vêem-se duas portas de celas, daquelas maciças, com uma pequena janela à altura da cara. O corredor é guardado por dois guardas. O primeiro encontra-se junto à primeira cela, em pose rígida e de costas para a parede. O segundo guarda, mais à direita, abre a porta da outra cela com uma chave, que se destaca entre um molho enorme delas. Ao lado da porta, surge um sistema de abertura de porta por reconhecimento de impressões digitais, completamente espatifado, com aspecto queimado e fios descarnados.

Os guardas estão equipados com uniformes high-tech, incluindo colete à prova de balas, botas e capacete. Porém, é visível a degradação do material, nomeadamente amolgadelas nos capacetes, cores desbotadas nos uniformes e buracos nas botas. Os próprios guardas têm um ar pouco cuidado, com barba por fazer e olheiras profundas.

Entre as portas das celas, surgem tubulações e cablagens futuristas que saem do chão em direcção ao tecto, unindo-se perpendicularmente a outras tubagens semelhantes que se estendem ao longo da junção entre a parede e o tecto. Alguma ferrugem, humidade e fios descarnados devem marcar presença no meio deste pseudo-aparato tecnológico. Ficaria giro se fossem estas tubagens a delimitar estas duas vinhetas iniciais.

Embora esta vinheta só mostre a entrada de duas celas, deve ficar patente que o corredor se prolonga e que há obviamente mais celas.

2 – Vinheta a toda a largura, ocupando sensivelmente metade do comprimento da página. Franco entra numa cela onde se encontra o Tó Chibo. Franco está de costas na imagem, em contra-luz, enquanto Tó está sentado na cama, extremamente contraído, dando mostras de preocupação. Olha na direcção de Franco, mas está curvado sobre os joelhos, com as mãos entrelaçadas como se estivesse a rezar. Tem o seu boné típico na cabeça e está vestido com um uniforme de recluso (teria piada, talvez, misturar os uniformes listados preto e branco com os americanos laranja). Está agrilhoado pelo tornozelo a uma bola de ferro que contém alguns sulcos semelhantes a caracteras lunares, que emitem luzes coloridas estilo bola de luzes de discoteca.

Para além desta fonte de luz, a cela tem um aspecto húmido e mal iluminado, com algum bolor e humidade a escorrer pelas paredes. A cama tem um aspecto pouco confortável e é daquelas que parecem suspensas na parede; uma espécie de estrado apenas com um colchão, uma coberta e uma almofada. Além da cama, a cela inclui ainda um lavatório, uma retrete, uma pequena mesa e uma cadeira. Sobre a mesa, encontra-se um livro, cujo título deverá ficar visível: “The Big Book of Big Secrets”, de William Poundstone. Curiosamente, e pese embora o que acabo de descrever, a cela está arrumada e limpa e acaba por ter melhor aspecto que o gabinete de Franco; isto só faz com que este se sinta mais revoltado com a falta de condições de trabalho.

O mesmo tipo de cablagens e tubos, que vimos no exterior da cela, encontram-se igualmente lá dentro, destacando-se grelhas de circulação do ar, dado que a cela não tem obviamente qualquer janela.

3 – Plano médio. Diálogo entre Franco e Tó, que se encontra ainda sentado. Os dois personagens surgem de perfil na imagem, de frente um para o outro. Franco está mais à esquerda, de pé; tem uma mão na cintura e passa a outra pelo cabelo, com uma expressão preocupada. A parte central da vinheta deve estar reservada aos balões de diálogo. Jogar eventualmente com o espaço negativo, para dar ênfase aos detalhes da vinheta anterior e às expressões dos personagens nesta vinheta.

F: “Tó… Você arranjou a bonita… Eu nem lhe disse nada, senão você nem dorme!”

TC: “Então? Conte lá o que é que se passa.” (olhos arregalados, manifestando curiosidade)

F: “As suas denúncias estavam certíssimas. Boa parte dos operacionais do Senhor Medonho já está dentro, mas é só raia miúda. Eu quero é meter as mãos nas chefias!”

TC: “Ok, mas isso não é novidade. O que é que há mais?”"

E pronto. Agora sejam meigos comigo e dirijam-me palavras simpáticas. Ando algo fragilizado e preciso de "cafunezinho" (como diriam os GF). Senão, começo mesmo a sentir-me incompreendido. Depois, só me falta sentir-me um génio.

Comentários

happiness disse…
A vida de um criador (de BD ou de outra coisa qualquer) está cheia de dúvidas, sobressaltos, inquietudes. Eu mesmo para criar este comentário estou a sentir a dúvida percorrer o meu corpo como sangue contaminado nas minhas veias (podia ter arranjado uma metáfora menos vulgar... bolas!). Estou a duvidar de mim mesmo e a pensar se não devia estar a trabalhar... ou a escrever comentários no meu blog em vez de comentar os blogs dos outros.
Em conclusão: é preferível este tipo de dúvidas do que a certeza de uma vida num emprego das 9h às 5h (17h para os mais puristas).

Jorge "happiness"

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